O nascimento de uma cervejaria artesanal implantada no meio de uma fazenda pode começar muito tempo antes.
O casal Fabricio e Júnia, por exemplo, eram executivos com especialização em logística numa grande empresa de armazenamento em Jundiaí, São Paulo. Ganhavam bem, tinham um futuro tranquilo e estável à sua frente. Mas felizes, felizes mesmo, não eram. E logo começaram a sentir aquele incômodo no coração que sussurra que está mais do que na hora de mudar de vida. “Não era um trabalho criativo, a gente sentia que não estava produzindo nada de verdadeiramente nosso, com a nossa marca. E não era manual, artesanal. Só ficávamos horas diante da tela do computados fazendo cálculos”, diz Fabricio Faria de Almeida, que não arrepende nem por um momento de ter vindo morar com sua mulher Júnia para a Serra da Mantiqueira.
E qual a experiência artesanal que eles tinham para mergulhar em outro projeto de vida? Hummm. Eles tinham produzido a própria cerveja servida no casamento deles. E o que era apenas uma brincadeira, gerou comentários elogiosos. “Por que vocês não fazem mais cervejas assim?”, “Nossa, cara, essa cerveja está muito boa”… Estimulados pelos elogios, começaram mergulhar mais no assunto e a fazer novas experiências, que também resultaram em bons produtos, com um ou outro errinho de principiantes, é claro.
Mas como mudar de vida, e para onde? Era uma questão. Fabrício tinha passado a infância numa fazenda na Serra da Mantiqueira. Mas era de café orgânico, criação de porcos e frutas exóticas. Não era bem o que eles tinham em mente. Mas se… E esse “mas se” foi crescendo na mente deles, até que um dia finalmente desenhou-se a opção definitiva: implantar uma cervejaria dentro da fazenda, aberta aos visitantes, com cervejas artesanais feitas com nuances de sabores vindos de produtos da propriedade. Isto é, cervejas feitas com lúpulo e limão cravo, ou também pitaya e amoras, maracujá e chá de cáscara, que é a casca junto com parte da polpa da frutinha do café. E assim por diante. Além de originais, elas poderiam ser deliciosas e refrescantes…
A ideia era tão boa que eles não tiveram mais dúvidas, mesmo que o projeto tivesse seus riscos. “A fazenda já produzia tudo organicamente. E nós queríamos fazer uma cerveja artesanal sustentável, cuja produção fosse respeitosa com a terra. Se a gente tirasse um quilo da terra, teríamos de devolver um quilo” conta Júnia Falcão, sócia-proprietária da cervejaria. E é isso mesmo o que acontece por lá: o bagaço do malte que é descartado após a produção, por exemplo, é secado ao sol e dado como alimento aos porcos da fazenda. Isso significa o aproveitamento de 15 toneladas/mês de dejetos que deveriam ser jogados na área da propriedade ou transportado em caminhões para fora, manobra de difícil execução. Fabrício e Júnia também fazem experimentos com fermentos naturais da Serra da Mantiqueira, além do tradicional belga empregado na produção, para aproveitar o que região produz. Tudo é pensado para que haja um máximo aproveitamento dos insumos utilizados.
O nome da cervejaria, ZalaZ, não significa nada. Apenas tem uma sonoridade que agradou ao casal quando pensavam no rótulo da cerveja. É um palímetro, isto é, uma palavra que pode ser ler nos dois sentidos. E como o nome não tinha um sentido especial, acharam um boa ideia atribuir à ele tudo o que tinham em mente: fabricar produtos de qualidade de forma totalmente sustentável.
E com uma produção de nove mil litros por mês, a Zalaz já é bem conhecida na região. Com outra característica bem original: a produção de cada rótulo é limitada. A cerveja feita com pitaya, uma fruta exótica cor-de-rosa originalmente vinda da Colômbia, por exemplo, tem de aguardar a colheita da fruta e o tempo necessário, um ano, para que o seu sabor seja apurado em barris de carvalho. É um processo demorado e artesanal, e quando o número de garrafas produzido acaba, é necessário esperar a outra leva da produção, que pode demorar um tempinho. Como todos produtos da Serra da Mantiqueira, ela é sazonal. Não adiante querer, por exemplo, pinhão fora da estação, ou shitake num verão úmido e chuvoso, quando ele precisa do frio e secura do inverno. Tudo tem o seu período próprio. E assim também acontece com as cervejas que levam produtos de lá.
Por tudo isso, não espere o preço de uma garrafa de cerveja industrial. Em média, as cervejas da ZalaZ custam 30,00. E não é caro, pelo custo do processo envolvido. Além disso, tem toda a experiência deliciosa de se consumir um produto dentro de uma fazenda orgânica. As cervejas também são acompanhadas de petiscos de boa qualidade, como o torresmo ou o presunto cru, vindos da criação local de porcos. Algumas vezes, jazz bands são convidadas para acompanhar a degustação, ou então, bandas para animar o Carnaval com marchinhas.
Confira as datas de abertura da Fazenda Santa Terezinha, onde está a Cervejaria Zalaz, no site www.zalas.com.br ou em sua página no Facebook.
Fotos/Slider: florada do café orgânico da Fazenda Santa Terezinha – Divulgação
Fotos do casal/Cervejaria ZalaZ à noite: Divulgação
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