Daily Archives: 27/03/2018

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aromatizantes naturais

AROMAS NATURAIS

A partir de futas, flores e sementes você pode fazer 11 cheirinhos deliciosos para perfumar a casa sem gastar com isso.

Texto: Mariana Bruno

 

LEIA MAIS EM:

11 aromatizadores naturais para deixar a casa cheirosa

 

 

Foto: © (с) Arina P Habich/Shutterstock  

casa no sul

LÃ NA DECORAÇÃO

Esta casa está no Sul do Brasil, mas seus elementos podem enfeitar qualquer recanto gostoso da Mantiqueira. E o uso da lã para decorar aos ambientes pode resultar em boas ideias

É só se inspirar….

Veja como em Experiências e no link abaixo:

Propriedade recupera processo artesanal de produção e tecelagem de lã

Texto: Liane Alves

Foto: Marco Antonio

CAFÉ COM ORQUÍDEA

Há uma pequena entrada na Estrada da Cerejeiras, à direita de quem vai para o Bairro Renópolis, em Santo Antônio do Pinhal (SP). Cerca de 500 metros antes dela, banners já anunciam atrações deliciosas, como chocolate com bolo e doces, sanduíche de shitake, lanche de pernil, sobremesas variadas e outras delícias. Embora os pequenos cartazes sejam objetivos e verdadeiros, eu escolheria outras palavras para chamar a atenção do visitante para esse lugar que serve café em meio a dezenas de orquídeas: beleza e delicadeza, simplicidade e harmonia, simpatia e acolhimento.

É difícil imaginar que depois de uma curva de uma estradinha rural você possa encontrar tantas surpresas. Logo ao entrar no galpão de tijolos com varanda de assoalho de madeira, os olhos se deslumbram. São orquídeas e mais orquídeas vindas das estufas da família Tadaki, de todas as cores e qualidades que você possa imaginar. E um caminho sinuoso de cimento ladeado por pedrinhas nos convida a explorar aquele inesperado jardim. Tudo ali respira simplicidade e beleza e harmonia, principalmente pelo teto de bambu entrecruzado feitos manualmente pelo Senhos Tadaki, 77 anos, o chefe desse clã de agricultores descendentes de japoneses.

No final do caminho, que não é longo, mas acolhedor, você encontra o espaço da cafeteria, com lanches preparados pelo chef Renato. No balcão e nas mesas, Thiago atende com simpatia. Como outros moradores que vem se instalar na Serra da Mantiqueira, eles trocaram suas profissões originais para poder trabalhar por aqui: os dois são engenheiros especializados, um em informática e o outro em telefonia. Vieram a convite de Eduardo Tadaki, o dono do Café com Orquídea, que os conhecia desde a adolescência. Na opinião dos clientes, pelo menos, Renato e Thiago fizeram um ótimo negócio. Para eles, viver na Serra da Mantiqueira é um privilégio.

Numa grande mesa de madeira, ficam expostas as várias opções para o café da tarde, que custa 14,90 por pessoa. Mas é no balcão refrigerado que, junto com o sanduíche de shitake no pão francês, está minha opção preferida: o banoffe, torta de inspiração inglesa feita com massa de biscoito, caramelo e chantilly. Quem faz é Alessandra Yamada, sobrinha da quarta geração do clã Tadaki, que é engenheira agrônoma.  Ah, e as mudas de morango orgânico sem agrotóxicos que estão à venda ali, são cultivadas por outro sobrinho. que é estudante da Esalq, a prestigiada escola de agronomia de Botucatu (SP). E também há em vista um futuro projeto de se instalar na entrada da cafeteria uma banquinha de verduras e legumes sem agrotóxicos cultivados pela família.

As estufas que ficam atrás do galpão da cafeteria também podem ser visitadas (por fora), assim como é possível percorrer os canteiros de amor-perfeito e lavandas da propriedade ou abrir a cesta de piquenique para comer ao ar livre numa mesa de madeira sombreada por árvores. O grosso da produção de orquídeas é vendido para os mercados atacadistas de São Paulo, mas Eduardo Tadaki faz questão de vendê-las a um preço justo para o consumidor (Miltonias por 18,00, Odontocidium por 19,80, Mini-Phaleonopsi por 19,90). Claro, orquídeas raras, como a Wanda, podem alcançar até 159,00, e nem os vasos das exóticas petúnias negras são muito baratos (49,00). Mas, no geral, os preços são acessíveis, além das várias ofertas que sempre estão em curso. No último Black Friday, por exemplo, você podia comprar uma linda orquídea com dois ramos cheios de botões e flores por 30,00 e levar outra de presente.  Isto é, pelo preço de um exemplar da mesma qualidade numa floricultura de uma grande cidade (90,00), você levava seis vasos da mesma espécie.

Nunca minha casa ficou tão florida…

 

 

Endereço: Estrada do bairro Barreiro (ou das Cerejeiras), km 4,5 no Circuito das Flores de Santo Antônio do Pinhal.

Telefone: (12) 98183-5041

Fotos: Antonio Milton Ito Soares

 

 

 

 

casa suspensa

PARA IMPLANTAR JÁ!

Você sonha com uma casa na Mantiqueira?

Aqui um projeto bem original e com bom custo/benefício para você se inspirar publicado na revista Casa Cláudia.

Texto: Letícia de Almeida Alves

LEIA MAIS EM: Casa de campo suspensa é prática e teve custo barateado

 

Foto: Divulgação/Eduardo Pozella

 

POR MAIS CONSCIÊNCIA

Como branca, eu tenho inúmeros privilégios que não me dou conta. E no ano em que se comemora 50 anos da morte do líder negro americano Martin Luther King, acredito que seja um bom momento para fazer essa reflexão.

E quem me enumera as vantagens que eu tenho sem me aperceber são mulheres e homens negros que estão numa roda de debates sobre o Privilégio Branco realizada em março de 2018 no palco do Auditório Cláudio Santoro, em Campos do Jordão.

Foi a primeira discussão da série Diálogos Impertinentes, promovida por Gustavo Prudente, Ricardo Artur Arroyo e sua empresa Sustenta Mundo – Culturas e Relações Sustentáveis, que tem o objetivo de trazer mais consciência ao ser humano, sobretudo aos que estão dispostos a rever ou afinar seus próprios valores, como eu e você. Nessa série de reflexões, a equipe de facilitadores aborda temas relacionados aos privilégios sociais.

Nessa primeira roda, eles convidaram três ativistas negros para, junto com público, falar sobre o que significa ser branco no Brasil hoje, e como isso impacta quem não é branco. Ao falar de sua própria vida, ou melhor, dos detalhes dolorosos e íntimos de sua própria vida, essas pessoas, que sofrem os mais sutis e cortantes preconceitos (justamente aqueles que não ditos diretamente, mas que podem ser percebidos pelo coração), me deixam com vergonha da minha inconsciência. Ou da minha omissão e silêncio, em muitos casos. Por exemplo, não me dou conta de que:

  • sou privilegiada quando entro num restaurante, ou numa loja, e o segurança não me olha desconfiado só por causa da cor da minha pele;

  • sou privilegiada quando outras crianças da minha idade não me chamam de feia por causa do meu nariz ou do meu cabelo;

  • sou privilegiada quando assisto, sem me causar qualquer incômodo, uma novela ou filme onde os brancos são os protagonistas e heróis, e os negros só ocupam um lugar secundário;

  • sou privilegiada quando todas minhas referências de beleza seguem padrões estéticos determinados pelos brancos e para brancos;

  • sou privilegiada quando sou contratada ou ganho uma promoção por ser branca, enquanto um negro é preterido e perde a vaga por ser negro;

E assim desfilam à minha frente uma série de outras circunstâncias que mostram a mim mesma o quanto de privilégios eu tenho sem ter uma consciência clara disso. Como diz Gustavo Prudente, tomo consciência de que “ser antirracista vai muito além de não fazer comentários racistas, compartilhar posts empáticos aos negros ou ir em manifestações”. É preciso ir além, e nem sempre estamos dispostos a ultrapassar essa fronteira. “Buscar ser antirracista implica no desenvolvimento da coragem de se arriscar a perder privilégios em nome de deixar de ser cúmplice com a perpetuação da estrutura racista. É atravessar o próprio medo em nome da luta pela dignidade de todos”, explica ele.

Sim, porque corro o risco de perder uma vaga se questiono uma contratação que pode ter sido feita por causa da minha cor. Ou me arrisco a ser condenada pela família se impeço meus filhos de assistirem um desenho animado com cenas sutilmente racistas. “Outro dia vi um filme da Barbie em que ela sai do mar com os cabelos loiros e soltos enquanto sua amiga negra sai com os cabelos duros. O comentário dela ao ver a amiga é alguma coisa do gênero: “Hum, que engraçado isso…”. Eu não vou deixar minha filha ver um desenho assim, com uma cena dessas. Porque ali já está embutida a noção de que o branco é bonito e o negro é feio, estranho, porque o engraçado aí está no mesmo sentido de ser estranho, diferente, inferior”, diz uma participante do público, casada com um negro. “Temos de estar vigilantes e atentos com tudo o que as crianças consomem em termos de cultura racista”, afirma. E isso requer uma postura ativa e consciente que nos obriga a nos expor, a sair da zona de conforto, a dizer “não, eu me recuso a compactuar com isso”. Sem medo de críticas ao mostrar abertamente minha indignação e inconformidade com isso.

Quando se tem consciência do próprio privilégio, não dá mais para se omitir e fingir que não se vê a discriminação que é feita com o outro.

Coloridos como as borboletas

Uma das participantes do grupo de debates reconhece que nunca teve consciência do racismo antes de vivenciá-lo a partir do seu casamento com um negro. “Minha família rejeitou a união. O mais incrível disso é que eu sou branca, mas minha irmã é morena: temos ancestrais negros na família”, ela conta. Dolores Medeiros, uma psicóloga especialista em Constelações Familiares que trabalha no Espaço Quintessência, em Santo Antônio do Pinhal (SP), concorda e acrescenta: “É muito comum ver negros casarem com mulheres brancas. E isso pode ser bem dolorido para as mulheres negras”, ela diz. Não é o caso dela, que é casada com o ativista negro Dojival Vieira. Mas ela sabe que essa pode ser uma situação comum. E vejo que um dos efeitos mais perversos do privilégio branco é que ele pode alcançar os próprios negros, ao se transformar em algo desejável também para eles. Meu coração fica cada vez mais apertado.

Relacionamentos entre negros e brancos, nas suas diferentes gradações de cor, é algo muito comum no Brasil. Mas nem sempre em termos de igualdade. Poucos admitem essa realidade evidente quando olham o próprio passado de suas famílias. Convenhamos: ninguém que tenha uma família radicada há muito tempo no Brasil está isento de ter antepassados negros. Mas quem tem coragem de assumir? Nos orgulhamos de sermos quatrocentões, mas esquecemos o restante da história. A família Camargo de Almeida, que é minha família original por parte paterna, por exemplo, tem centenas de anos em terras brasileiras, talvez mais de 400. Somos descendentes do Barão de Mambucaba, cidadezinha perto da região de Paraty. Quem garante o nosso passado? Temos milhões de “Escravas Isauras” no país – gente que parece branca, mas que tem uma porcentagem de características genéticas latentes relacionadas ao negro ou índio. Quem disse que o avô do meu tataravô, por exemplo, não se encantou por uma dessas mulheres? Ou que teve um relacionamento com uma escrava e assumiu os filhos? Nós, brasileiros, somos negros e brancos do café com leite mais branco possível ao preto mais retinto. Vamos deixar de ser bestas, então, é difícil encontrar alguma pseudo-pureza racial por aqui (se ela existisse realmente). E esse fato, que, na verdade, deveria ser motivo de orgulho e nos unir, infelizmente nos separa. E por motivos bem questionáveis.

Não existem raças, e esse fato é mais do que comprovado cientificamente. Temos em nosso DNA não só genes da nossa própria espécie, como de espécies extintas (como os Neanderthais), além da presença de genes de várias origens. Enfim, somos todos juntos e misturados. É o que me garante Dojival Vieira, jornalista e dono da agência de notícias Afropress. E ele se refere a algo que é um bálsamo para o meu coração: somos uma mistura danada de cruzamentos de muitas linhagens genéticas. Não existe nada além do que seres humanos, com uma cabeça, dois braços, duas pernas e sangue vermelho. Nenhuma raça é superior à outra, porque elas simplesmente não existem: somos apenas descendentes de hominídeos originários da África ou Austrália, que foram mudando suas características ao correr do tempo, e de acordo com diversas circunstâncias.

“O importante é enxergar a beleza na diversidade dos seres. Ao afirmar que existe uma raça, e que ela é superior a outra, me torno racialista. O movimento negro americano do Black Power, por exemplo, é racialista”, ele diz. O racialismo nos induz a viver sem interação, cada um no seu quadrado, e se achando o máximo dentro dele. Gosto do tom tranquilo, e ao mesmo tempo firme, de Dojival. Acredito que ele já tenha passado muita raiva e mágoa por causa do preconceito, e que as tenha ultrapassado. Ele e Gustavo Prudente, o facilitador do debate, um branco e um negro, são amigos e moram em Santo Antônio do Pinhal, aqui do ladinho de Campos do Jordão. São exemplos inspiradores de que é perfeitamente possível abrir mão do privilégio, de um lado, e do ressentimento, do outro. Na paz.

Martin Luther King, no seu célebre discurso I have a dream (Eu tenho um sonho), dizia que imaginava tempos futuros nos quais “minhas quatro pequenas crianças viverão em uma nação onde não serão julgadas pela cor de sua pele, mas pelo conteúdo do seu caráter”. E ele continuava a falar sobre seu desejo: “E onde meninos negros e meninas negras poderão unir as mãos com meninos negros e meninas negras como irmãs e irmãos”. Gustavo e Dojival já são assim. E os filhos deles provavelmente serão assim também. Meu coração começa a se aliviar.

Termino a palestra com um sorrisão daqueles por causa da afirmação pró-diversividade e pró-igualdade racial feita por Dojival Vieira. A luta contra a discriminação continua. Mas já se pode dar outros passos além disso, como enxergar a beleza da multiplicidade entre os seres e o reconhecimento da igualdade de seus direitos como algo absolutamente normal e inquestionável.

Quando criança, queria ter cabelos longos e verdes, como as sereias. Não me importaria se minha pele fosse azul, nem que minhas pupilas fossem douradas, como os seres de Avatar. Seria lindo se eu pudesse ser assim, multicolorida. E que todos pudessem ser assim também. Já imaginou quantas opções genéticas teriam nossos descendentes? Cintilantes, a ostentar as 100 mil opções de tonalidades que nos oferecem o espectro visível das cores, não teríamos mais porque brigar. Seríamos tão misturados que ficaria impossível afirmar qualquer tipo de racialidade ou diferença entre nós. E ficaria de um ridículo total alguém dizer algo como “eu sou mais laranja-avermelhado-dourado-com-tonalidades-violáceas do que você, viu?”.

E, nesse exemplo acima, podemos ver claramente que o problema nunca foi a cor. Mas, sim, o nosso nível de consciência.

 

. O segundo tema a ser abordado pelos Diálogos Impertinentes no Auditório Cláudio Santoro será o Privilégio Hétero, em abril próximo.

 

Foto: Antonio Milton Ito Soares

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